segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Tanta saudade

Acho que eu devia ter vivido nos anos 70, em Belo Horizonte. O que tenho ouvido de Clube da Esquina ultimamente não é brincadeira! E sinto saudades daquela época que não conheci.

Qualquer dia desses aprendo a colocar vídeo aqui... não deve ser difícil.




25/12/2008
Aí vai o vídeo, com agradecimento à Repórter de Sandálias.

Feliz Natal a todos! Desejo que o espírito de fraternidade sugerido pela data seja real e se estenda para todos os dias. Abraços.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Contra argumentos não há fatos

É interessante notar o diálogo involuntário entre Jarbas Passarinho e João Ubaldo Ribeiro, os quais assinam artigos no jornal "O Liberal" de ontem (caderno Atualidades, p. 2). Ubaldo, em uma linha de raciocínio bastante coerente, expõe como os números, que a princípio não mentem, muitas vezes são instrumentos para as mentiras dos homens. Com fina ironia, o escritor baiano desanca Lula, um dos seus alvos prediletos.

Logo acima de se espaço, Passarinho confirma a tese. Mas não são exatamente números que o ex-ministro da ditadura militar manipula, mas os próprios fatos (conhecidos por sua imunidade contra argumentos). O coronel abre o seu texto soltando a seguinte pérola: "durante o ciclo militar, inclusive quando vigente o AI-5, as eleições livres foram mantidas regularmente". O leitor incauto poderá daí concluir que a ditadura foi uma invenção de conspiradores comunistas. A democracia nunca foi sequer ameaçada. O detalhe é que tais eleições contavam apenas com dois partidos, sendo que somente o da situação (Arena) podia expressar-se livremente. Qualquer manifestação contrária ao regime, como qualquer criança sabe, era suprimida - não raro com a supressão daquele que emitiu-a. E os cargos executivos mais importantes (governadores e presidente) não eram elegíveis. Com essas informações, a afirmação de Jarbas Passarinho mostra-se uma falsificação histórica.

Logo após, um dos homens mais poderosos e inteligentes do período militar diz-se alienado em relação ao próprio regime que integrou e tão bem defendeu - é dele a infame frase "às favas com os escrúpulos de consciência", dita em reunião que sancionou o AI-5 (dia 13 último o ato completou quarenta anos). Jura ele: "nunca ouvi falar da operação Condor, quando senador ou ministro que fui. Só há poucos anos dela tomei conhecimento". A operação Condor foi uma aliança dos governos militares do Cone Sul com o objetivo de aniquilar as organizações contrárias à ditadura. É estranho que o ex-ministro e líder do governo militar no Senado não estivesse à par de ação tão estratégica. Sinceramente não dá pra acreditar.

Sendo assim, acho que o título do artigo de João Ubaldo Ribeiro cairia melhor no de Passarinho: "Realidade, que realidade?"

sábado, 13 de dezembro de 2008

Enfim eles se chocam

Mais uma vez os jornalões (?) da cidade demosntram a parcialidade de suas linhas editoriais quando o assunto é violência urbana. Enquanto não há o mínimo de respeito pela dignidade humana de vítimas e algozes pobres, que nesses casos são expostos como torpe espetáculo ou estereotipados sumariamente, aos ricos e poderosos é reservada a civilidade e a sensibilização. Prova de que eles podem fazer o certo, a hora que quiserem.

Hoje as capas dos três jornais (Diário do Pará, O Liberal e Amazônia Jornal - não vi o Público hoje) trazem como manchete principal a morte do médico Salvador Nahmias, ocorrida ontem à tarde por ocasião de um assalto no centro de Belém. A título de exemplo, comentarei o tratamento dispensado pelo Diário, mas que vale para os outros dois.

Cuidadoso, o fotógrafo Leomar Fonseca não se atreveu a aproximar-se do cadáver. Na imagem aparece em segundo plano um homem grisalho com a cabeça pendida para baixo. No detalhe, uma foto do médico sorridente, muito vivo. Provavelmente a famíia não precisou lembrar à equipe de reportagem do seu direito a preservar a imagem do ente querido. Ela já saiu da redação ciente de que tratava-se de "um figurão, e é pra tomar cuidado".

Na mesma edição, há uma situação semelhante. Um "bandido" encontra-se estirado no banco da frente de um carro, com um tiro no peito. Dessa vez o fotógrafo (Alex Ribeiro) chega o mais próximo possível do corpo - claro que não poderia abrir a porta do carro e dar o close desejado. Bem, para a matéria nem nome o dito bandido tem. É um sujeito indefinido, um entre tantos bandidos que aterrorizam a mocinha sociedade.

O jornal mostra-se muito sensível à escalada da violência que noticia todos os dias e tasca um editorial carregado de clichês e ingenuidades (?) dizendo que "a sociedade já não aguenta mais". Até ontem aguentava? Há quanto tempo mesmo um dos temas correntes na boca do povo é o nível intolerável a que chegou a violência? Desse jeito fica parecendo que só é intolerável quando atinge "um dos nossos". E ainda tem gente que considera anacrônico esse papo de classes sociais.

Por fim, quero deixar claro que não minimizo a perda desse ser humano. É lamentável. Só lembro que todos os dias dezenas de seres humanos, os quais valem tanto quanto o médico cardiologista, são trucidados pela barbárie em que vivemos. E esses mesmos jornais que hoje choram, vêem naquelas pessoas apenas mais uma foto bem grotesca que se converta em aumento na vendagem. Isso é que são dois pesos e duas medidas.

Alan Araguaia

sexta-feira, 8 de agosto de 2008

De novo "Ana Karenina"

"Como era mesmo?" Essa frase, de todas do grande romance "Ana Karenina", de Tolstoi, é de longe a que mais me toca. Antes de qualquer coisa, quero adiantar que isso não pretende ser uma análise literária. É simplesmente uma divagação, um espasmo mental, como quase tudo que passa pela minha cabeça. A tal frase é proferida logo na primeira página, por Stiepan Arcadievitch Oblonski, o arquétipo do homem viril e bem resolvido. A descrição anterior do clima de sua casa, que dividia com a frígida Dolly - mulher incompatível com sua virilidade e energia vital - dá o tom do drama de Oblonski sintetizado na atordoada interrogação: "como era mesmo?" Ele acabara de despertar de um sonho surreal, que eu não saberia descrever ao certo agora (além de tudo, dei o livro de presente para uma amiga que me confessa nunca ter lido, o que sempre me faz lembrar uma música do Chico Buarque. Mas não vou pedir que me devolva, até porque ela não me tomou). Mas o sonho tinha a ver com duas paixões irrefreáveis de Oblonski: mulheres e garrafas. Mulheres engarrafadas. Fantástico, não?

Acordar era para Oblonski ser arrancado à força de um mundo bem mais interessante do que o "real". Era voltar para os conflitos com a mulher, que mesmo sem ter essa intenção era um obstáculo à felicidade de Oblonski. Afinal, Dolly igualmente só queria ser feliz e para isso o melhor seria que o marido fosse um animal doméstico. Isso me faz pensar, se me permitem a filosofia barata, que a grande tragédia (e redenção) humana está nesse curioso fato de sermos em tese indivíduos autônomos, mas na realidade inter-dependentes, e por isso nos fazemos as insuportáveis exigências mútuas (me perdoem também as colocações insólitas).

O meu tempo nesse café cibernético chegou ao fim. E o mesmo destino precoce é reservado a esse texto.

Alan Araguaia

quarta-feira, 12 de março de 2008

Cooperativa de catadores trabalha para reduzir o volume de lixo em Belém

A sede da cooperativa localiza-se dentro do Aterro Sanitário do Aurá.

Papel, plástico, metal. Para uns, lixo; para outros, uma forma de sustento. As embalagens que são jogadas fora têm destino certo em Belém: o aterro sanitário do Aurá, o maior da Região Metropolitana. Dentro do espaço do lixão, existe uma cooperativa de catadores intitulada de Cooperativa dos Profissionais do Aurá – COOTPA.

Fundada em 2001, a cooperativa surgiu no intuito de tentar organizar um grupo de trabalhadores, e hoje conta com 35 cooperados. Odinéia Lopes, 35 anos e catadora há oito, diz que não vê outra opção de trabalho a não ser esse. Ela, que ganha no máximo 100 reais por semana, é o retrato da maioria dos trabalhadores da área.

“Não terminei nem o ensino fundamental, moro em terreno de invasão e não tenho um ofício”, declara Odinéia. Assim como ela, outros trabalhadores se queixam da questão da idade, pois se acham “velhos” para entrar no mercado de trabalho formal.

A presidente da cooperativa e ex-catadora Mara Suely Martins, procura oferecer uma forma mais digna de trabalho ao oferecer botas, máscaras e luvas, mas lembra que nem todos usam a proteção para o rosto e mãos. Mesmo assim, há os que digam que nunca se machucaram ou adoeceram devido à coleta e, no máximo, já tiveram uma gripe.

Mara diz que a cooperativa não recebe nenhum tipo de incentivo do poder público, mas que o poder privado, através de algumas empresas da capital, doa materiais para a reciclagem.

Mesmo depois que o decreto 5.940 foi instituído em 2006 pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, atribuindo aos órgãos sob Administração Federal o dever de separar resíduos descartáveis e destiná-los às associações e cooperativas de catadores de lixo, a realidade ainda não retrata esses atos. “Recebemos mais apoio do poder privado ao invés do público”, diz a presidente da Cootpa.

O resultado da coleta é levado à sede da cooperativa, onde se faz a triagem, processo no qual o “triador” separa os objetos de acordo com o tipo: vidros, plástico, metal, papel, garrafa pet, etc.

Após o processo de separação é a vez do “carregador” levar em caminhões o resultado da triagem até as empresas de reciclagem. A cooperativa conta com dois carregadores, dentre eles Antônio Gomes. Ele ganha pelo transporte, além de ser o responsável por ir buscar as doações das empresas. Dirigindo um caminhão de sua propriedade, Antônio diz que o frete, na maioria das vezes, só dá para pagar o combustível. Para sobreviver, faz trabalho-extra carregando resíduos de outros catadores não-cooperados.

O material coletado é vendido por quilo: o papel branco custa vinte centavos; papelão, papel de revista e jornal, dez centavos, cada quilo; e as garrafas pet, sessenta centavos. As latas de alumínio, das quais o Brasil é recordista mundial em reciclagem, não são levadas para a catação na cooperativa porque são vendidas por fora. O valor do quilo custa em média dois reais.

Depois da triagem, os resíduos são pesados e os catadores recebem seu dinheiro nos finais- de- semana. Pagam-se os “triadores”, os “carregadores” e o que sobra vai para a presidente e o tesoureiro da cooperativa. Parte da verba também se destina para a manutenção da sede. Nenhum deles possui carteira assinada e jamais trabalhou sob tal condição, mas as opções de vida não lhe deram muitas oportunidades.

Os catadores lembram da importância de separar o lixo dentro de casa, pois isso facilita o trabalho de quem vive da coleta. Procurar respeitar os horários de coleta de lixo domiciliar e evitar jogar entulhos nas ruas são algumas atitudes das quais nós, cidadãos, podemos respeitar e adotar aos nossos hábitos diários.

Assim, não só cooperamos com o trabalho de catadores, como também contribuímos para diminuir a poluição do meio ambiente.


Fabíola Corrêa

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Janelas de Belém


Da minha janela eu vejo
A manga caindo
A chuva chovendo
E o rio passando

Da minha janela eu saio
Domingo na República
Tomo água de coco na Batista Campos
E vejo pôr-do-sol na Estação

Da minha janela eu aprecio
Peixe com açaí no Ver-o-Peso
O tacacá da “tia”
E de noite, o sanduíche da esquina

Da minha janela discordo
Do papel jogado no chão
Das faltas de lixeira
Das calçadas quebradas e do esgoto sem solução

Da minha janela eu olho
As ruas da Pedreira
Do Sacramenta ao Nazaré
As bicicletas no trânsito, e o povo andando a pé

Da minha janela escuto
O revoar dos pássaros
A buzina dos carros
E o tocar dos sinos

Da minha janela eu rezo
Ao chegar do Círio
Ao passar da Santa
E ao nascer do sol

Da minha janela eu vejo
É Belém
Ah, minha terra
Como te quero bem!

Fabíola Corrêa