quarta-feira, 12 de março de 2008

Cooperativa de catadores trabalha para reduzir o volume de lixo em Belém

A sede da cooperativa localiza-se dentro do Aterro Sanitário do Aurá.

Papel, plástico, metal. Para uns, lixo; para outros, uma forma de sustento. As embalagens que são jogadas fora têm destino certo em Belém: o aterro sanitário do Aurá, o maior da Região Metropolitana. Dentro do espaço do lixão, existe uma cooperativa de catadores intitulada de Cooperativa dos Profissionais do Aurá – COOTPA.

Fundada em 2001, a cooperativa surgiu no intuito de tentar organizar um grupo de trabalhadores, e hoje conta com 35 cooperados. Odinéia Lopes, 35 anos e catadora há oito, diz que não vê outra opção de trabalho a não ser esse. Ela, que ganha no máximo 100 reais por semana, é o retrato da maioria dos trabalhadores da área.

“Não terminei nem o ensino fundamental, moro em terreno de invasão e não tenho um ofício”, declara Odinéia. Assim como ela, outros trabalhadores se queixam da questão da idade, pois se acham “velhos” para entrar no mercado de trabalho formal.

A presidente da cooperativa e ex-catadora Mara Suely Martins, procura oferecer uma forma mais digna de trabalho ao oferecer botas, máscaras e luvas, mas lembra que nem todos usam a proteção para o rosto e mãos. Mesmo assim, há os que digam que nunca se machucaram ou adoeceram devido à coleta e, no máximo, já tiveram uma gripe.

Mara diz que a cooperativa não recebe nenhum tipo de incentivo do poder público, mas que o poder privado, através de algumas empresas da capital, doa materiais para a reciclagem.

Mesmo depois que o decreto 5.940 foi instituído em 2006 pelo presidente Luis Inácio Lula da Silva, atribuindo aos órgãos sob Administração Federal o dever de separar resíduos descartáveis e destiná-los às associações e cooperativas de catadores de lixo, a realidade ainda não retrata esses atos. “Recebemos mais apoio do poder privado ao invés do público”, diz a presidente da Cootpa.

O resultado da coleta é levado à sede da cooperativa, onde se faz a triagem, processo no qual o “triador” separa os objetos de acordo com o tipo: vidros, plástico, metal, papel, garrafa pet, etc.

Após o processo de separação é a vez do “carregador” levar em caminhões o resultado da triagem até as empresas de reciclagem. A cooperativa conta com dois carregadores, dentre eles Antônio Gomes. Ele ganha pelo transporte, além de ser o responsável por ir buscar as doações das empresas. Dirigindo um caminhão de sua propriedade, Antônio diz que o frete, na maioria das vezes, só dá para pagar o combustível. Para sobreviver, faz trabalho-extra carregando resíduos de outros catadores não-cooperados.

O material coletado é vendido por quilo: o papel branco custa vinte centavos; papelão, papel de revista e jornal, dez centavos, cada quilo; e as garrafas pet, sessenta centavos. As latas de alumínio, das quais o Brasil é recordista mundial em reciclagem, não são levadas para a catação na cooperativa porque são vendidas por fora. O valor do quilo custa em média dois reais.

Depois da triagem, os resíduos são pesados e os catadores recebem seu dinheiro nos finais- de- semana. Pagam-se os “triadores”, os “carregadores” e o que sobra vai para a presidente e o tesoureiro da cooperativa. Parte da verba também se destina para a manutenção da sede. Nenhum deles possui carteira assinada e jamais trabalhou sob tal condição, mas as opções de vida não lhe deram muitas oportunidades.

Os catadores lembram da importância de separar o lixo dentro de casa, pois isso facilita o trabalho de quem vive da coleta. Procurar respeitar os horários de coleta de lixo domiciliar e evitar jogar entulhos nas ruas são algumas atitudes das quais nós, cidadãos, podemos respeitar e adotar aos nossos hábitos diários.

Assim, não só cooperamos com o trabalho de catadores, como também contribuímos para diminuir a poluição do meio ambiente.


Fabíola Corrêa