quarta-feira, 30 de setembro de 2009

Sobre golpes brandos

Quem ainda duvidava do caráter manipulador da chamada grande imprensa nacional, apelidada por Paulo Henrique Amorim de PiG (Partido da imprensa Golpista), deve render-se aos fatos diante da cobertura que fazem do golpe em Honduras. Para começar, criaram um eufemismo, largamente utilizado por colunistas (ou "colonistas", como prefere o já citado PHA) da estirpe de Miriam Leitão, Dora Kramer e Eliane Catanhêde (percebi agora que as mulheres estão com tudo nesse ramo): "governo de facto" (já com a devida atualização gramatical, é claro). Essa expressão me faz lembrar aquela outra, que diz que tal coisa "é de fato, mas não de direito", ou vice-versa. Matei a charada! Para não dizer que os golpistas não são por direito o governo de Honduras, escorregam para o tal "governo de facto". Uma mensagem subliminar.

Desde que os golpistas fecharam uma rádio e uma TV de oposição, na última segunda-feira (28), percebi pelo menos no portal UOL uma mudança de postura. A manchete falava de governo golpista. Obviamente o espírito corporativista falou mais alto: mexeram com os meios de comunicação, nossos iguais! Enquanto os golpistas depuseram e expulsaram o presidente democraticamente eleito do país; reprimiu duramente manifestações populares, resultando inclusive em mortes e impuseram o toque de recolher, até então eram o "governo interino" ou "governo de fato".

O UOL, inclusive, agiu dissimuladamente em uma matéria de ontem (não achei o link), ao dizer que "consultou especialistas", os quais afirmaram o que todos já sabíamos: chamar o governo de Michelleti de "interino" é uma concessão a um regime golpista! A tímida "errata" saiu ensanduichada em uma matéria mais ampla sobre a crise em Honduras. Quer dizer que ingenuamente o portal errava, agora aprendeu que o certo é o termo golpista? Sei, acredito!

Tudo isso faz lembrar uma sucessão de episódios da História, em que num primeiro movimento a mídia apóia abertamente golpes de Estado, para depois posar de vítima e, finalmente, calar-se até que a conjuntura aponte para uma redemocratização, quando se apresenta como se fosse tudo o que sempre quis. Devemos ficar atentos, pois um golpe no Brasil não é coisa tão improvável. E se acontecer, as informações chegarão nubladas à população. Vão dizer que golpista é o presidente de plantão, que quer se perpetuar no poder, fazer reforma agrária na marra, controlar os media, entre outras atrocidades. E que contra isso faz-se necessário que os demais Poderes cortem as asinhas do tal presidente... não é impossível.

Alan Araguaia